sexta-feira, 21 de março de 2014

Década de 30: Dr. Vaz da Costa


Dr. Joaquim Vaz da Costa, Promotor Público e depois Juiz de Direito da Comarca.

Sendo nomeado Desembargador em 1928, indo morar Teresina, o Dr. Vaz da Costa transferiu para lá suas atividades políticas. Ligado ao Governador Matias Olímpio, integrou-se à Aliança Liberal, que fazia a campanha de Getúlio Vargas a Presidente da República.

Perdida a eleição, Vaz da Costa juntou-se aos conspiradores que pregavam a revolução armada. Em outubro de 1930, ele foi pessoalmente, alta madrugada, chefiando um grupo armado, ao palácio de Karnak depor o governador[1]. Bem sucedido, empossou no cargo o Vice- Governador Humberto de Area Leão, Comandante da Marinha de Guerra, levando o governador deposto para o quartel do 25 BC, onde o manteve preso. O Piauí foi o primeiro estado que fez explodir a revolução. Deu o grito para ao resto do país, que seguiu seu exemplo. O Desembargador Vaz da Costa ficou envaidecido com os aplausos recebidos pelo sucesso do golpe, pois estava numa evidência extraordinária.

Não demorou muitos meses para se desentender com o novo governador e entrou em outra empreitada. Juntando seus simpatizantes e seguidores, aplicou novo golpe, depondo e prendendo o governador, e entregou o cargo ao Capitão Lemos Cunha, que estava no comando da Guarnição Federal. O Desembargador ficou endeusado na Capital. Eu estudava lá nessa época. Só se falava nele, na sua audácia, valentia, coragem e prestígio dentro da revolução.

Nova briga do Desembargador e a bagunça se instalou no palácio do governo, porque o candidato à substituição era ele mesmo, mas não tinha a aprovação do comando revolucionário, que no nordeste era exercido pelo tenente Juarez Távora. O Presidente da República nomeia para Interventor o tenente Landri Sales. A paz não dura muito tempo, o cabo Amador levanta o quartel da policia, vai de surpresa ao Karnak e prende o Tenente Landri, que fica de início submisso, mas fogo encontra um meio de se livrar, reúne um grupo de militares e vai para o quartel da polícia, onde trava um tiroteio e o retoma, prendendo os rebeldes.
Voltando ao Karnak, onde foi pequena a resistência, reassume seu posto, restabelece a ordem e instaura sindicância, para punir os culpados. Dentro de poucos dias, o Desembargador é considerado culpado e vai preso, respondendo processo.

Logo no início da revolução, Vaz da Costa faz nomear prefeito de São João seu sogro José Torquato, que morava na fazenda Alegre. Com o desfecho da briga do Tenente Landri, não era concebível sua permanência no cargo, oferecido então a Raimundo Pereira de Sousa, que se tornou conhecido do Interventor Landri pelos bons serviços prestados na aplicação dos recursos vindos para socorrer os flagelados da seca de 32. Nomeado, tomou posse no segundo semestre de 1932.



[1] O Governador deposto era João de Deus Pires Leal – nota da organizadora (Ismênia Reis)

domingo, 2 de março de 2014

Padre Jerônimo e o Carnaval



O Padre Jerônimo assumiu a paróquia em 1936 de São João do Piauí, em substituição ao alemão Padre Francisco. Congregado da ordem dos Mercedários, de origem espanhola, radicado há anos em São Raimundo Nonato, era um homem culto e de muita autoridade, com admirável capacidade de trabalho, dedicado ao pastoreio das almas. Enfrentava as dificuldades com desembaraço e desenvoltura. 

Nesse tempo não havia confissão comunitária. Assentando num confessionário, atendia aos penitentes o dia todo e entrava noite adentro, enquanto houvesse gente na fila, Montado a cavalo, atendia aos chamados para lugares mais distantes com o objetivo de assistir a um moribundo, na esperança de dar-lhe um passaporte para a eternidade. Sua ordem religiosa condicionava voto de pobreza, de modo que repassava para a então prelazia de São Raimundo Nonato tudo que ganhava do seu estafante trabalho como vigário, que era afanoso, pois passava meses a fio em desobriga a percorrer a cavalo toda extensão territorial da paróquia.

Padre Jerônimo dava tudo de si para os paroquianos, mas cobrava reciprocidade em favor de Deus, com dedicação e intransigência. Na ocasião dos festejos religiosos e dos dias de desobriga pelo interior, não tolerava festas profanas, tentando derribar os costumes tão tradicionais de toda a região. Nas fazendas foi fácil controlar os fiéis, sempre atenciosos e obedientes ao vigário, mas nos povoados enfrentou dificuldades irreversíveis, tendo, algumas vezes, de suspender a desobriga e viajar antes de terminá-la.

Na cidade a convivência foi sempre meio tumultuada, mas as famílias encontravam meios diplomáticos para superar as crises. A dificuldade maior estava entre as zeladoras do Apostolado da Oração, das quais exigia que controlassem os filhos para não promoverem nem frequentarem bailes por ocasião das novenas. Umas se rebelaram logo, como foi o caso de D. Anoca Fialho; outras contemporizavam diplomaticamente, de que foi exemplo D. Maria Leodônia:  dar a Deus o que for de Deus e a César o que for de César, conforme o ensinamento de Cristo.


A briga maior do vigário era contra os foliões do carnaval, que considerava festa de Satanás. Nesse particular foi completamente vitorioso. Ameaçava negar as cinzas da quarta-feita a quem desobedecesse a sua recomendação, mantendo a cidade sob controle, exceção de Camilo Amorim, que reunia meia dúzia de rebelados e desfilava pelas ruas durante os três dias de folia ao som de sua famosa orquestra de pau e corda, desafiando as iras dos céus, que chegavam na terra pela boca do vigário.