segunda-feira, 26 de outubro de 2015

DÉCADA DE 30: MUNDICO LAURENTINO

Raimundo Pereira de Sousa (Mundico Laurentino)

Construindo a Paz em São João do Piauí

Mandato: 1932 - 1945

Raimundo Pereira de Sousa, mais conhecido como Mundico Laurentino, era partidário dos Carvalho e os trouxe de volta para o poder, nomeando Ernesto Carvalho como Secretário, e Leolino Santos Sobrinho para tesoureiro da Prefeitura. Isto estava longe de significar a continuação da luta de família, pois sua primeira preocupação era promover a paz social, que foi conseguida sem muita dificuldade, pois a cidade estava cansada de tantas desavenças, ódios e sobressaltos. Fazendo uma administração justa na Prefeitura, na Coletoria e na Delegacia, foi conquistando a confiança coletiva, de modo a acabar com a divisão da cidade em duas sociedades rivais. Mundico Laurentino governou 13 anos consecutivos.
A cidade vivia no escuro, até que o novo Prefeito, Raimundo Pereira de Sousa, instalou iluminação pública, através de lampiões Petromax, que clareavam bastante as ruas, até às 10 horas da noite. Para os dias de hoje, pode considerar-se cedo, mas naquele tempo a cidade dormia nessa hora. Essa iluminação agradou bastante a população, por considerar que os recursos da Prefeitura não suportariam as despesas com eletricidade a motor.
As bandas de música da década anterior se acabaram, surgindo em seu lugar grupos musicais de pau e corda, O mais famoso era o de Camilo Amorim, que tocava violão, sendo seu braço direito Aristeu Lopes, no cavaquinho, que animava as festas, ao cantar as emboladas. Havia outros figurantes, que não eram fixos como esses dois. Os bailes começavam entre sete e oito horas da noite, terminando de dez para onze horas, precisamente quando começam as festas de hoje. Quem quiser mais detalhes, converse com Aristeu, que está vivo e lúcido. Ao lado dessas orquestras, havia também os tocadores de harmônica de oito baixos, sendo Manoel Vicente o mais importante.
A preocupação com o comportamento e o decoro das moças era grande entre as famílias da sociedade. "Moça falada" não podia dançar nos bailes, Testemunhei casos de senhoritas serem convidadas a deixar o salão, por essa razão. Como não existia clube, as festas se realizavam nas casas de família, que exerciam vigilância sobre os participantes. Quanto aos rapazes, o tratamento era outro. Somente em casos especiais de anarquistas e degenerados ocorria esse tipo de expurgo, mas a verdade é que não se transigia com a seleção na escala social. Existiam os bailes de primeira e de segunda.
Como a cidade não possuía água encanada, adotou-se o costume dos banhos no rio Piauí. Havia três banheiros para mulher: no beco do potão, no beco do major Honório e no beco da feira; e somente um para os homens, nas proximidades do beco do Manoel Luiz. Eram pequenos cercados na água, tampados com palha de carnaúba. Os banhos eram coletivos, reunindo as famílias, de acordo com as afinidades sociais e grau de parentesco. Como todos estavam seguros da inviolabilidade do local, ninguém usava maios, nem calcinhas, nem cuecas, ficando mesmo nos trajes de Eva ou Adão. A partir das oito horas, viam-se mulheres sair às ruas com toalhas às costas e saboneteiras nas mãos em direção do rio. Além do prazer do banho, se regozijavam com as conversas, passando em revista os acontecimentos do dia anterior, como se fossem verdadeiros jornais falados.
O banheiro dos homens era um só e nele se concentravam varões casados e rapazes. Os sabonetes eram também comuns, passando de mão em mão. Toalha nem se falava. Os viciados levavam uma garrafa de Januária e a brincadeira era generalizada. Diziam que estavam recebendo os perfumes e os encantos que do belo sexo, rio acima, se desprendiam nas águas correntes.

Com a substituição dos caciques nas lideranças partidárias e as ordens pacifistas do novo prefeito, os ânimos foram se acalmando, os homens e a mulheres de cada lado se entendendo, a paz reinando e todos mundo respirando aliviado, sem atritos, nem desconfianças. São João se preparava para entrar progressista na década de 40.