Raimundo Pereira de Sousa (Mundico Laurentino)
Construindo a Paz em São João do Piauí
Raimundo Pereira de
Sousa, mais conhecido como Mundico Laurentino, era partidário dos Carvalho e os
trouxe de volta para o poder, nomeando Ernesto Carvalho como Secretário, e
Leolino Santos Sobrinho para tesoureiro da Prefeitura. Isto estava longe de
significar a continuação da luta de família, pois sua primeira preocupação era
promover a paz social, que foi conseguida sem muita dificuldade, pois a cidade
estava cansada de tantas desavenças, ódios e sobressaltos. Fazendo uma
administração justa na Prefeitura, na Coletoria e na Delegacia, foi
conquistando a confiança coletiva, de modo a acabar com a divisão da cidade em
duas sociedades rivais. Mundico Laurentino governou 13 anos consecutivos.
A cidade vivia no escuro, até que o novo Prefeito,
Raimundo Pereira de Sousa, instalou iluminação pública, através de lampiões
Petromax, que clareavam bastante as ruas, até às 10 horas da noite. Para os
dias de hoje, pode considerar-se cedo, mas naquele tempo a cidade dormia nessa
hora. Essa iluminação agradou bastante a população, por considerar que os
recursos da Prefeitura não suportariam as despesas com eletricidade a motor.
As bandas de música da década anterior se acabaram, surgindo em seu lugar
grupos musicais de pau e corda, O mais famoso era o de Camilo Amorim, que
tocava violão, sendo seu braço direito Aristeu Lopes, no cavaquinho, que
animava as festas, ao cantar as emboladas. Havia outros figurantes, que não
eram fixos como esses dois. Os bailes começavam entre sete e oito horas da
noite, terminando de dez para onze horas, precisamente quando começam as
festas de hoje. Quem quiser mais detalhes, converse com Aristeu, que está vivo
e lúcido. Ao lado dessas orquestras, havia também os tocadores de harmônica de
oito baixos, sendo Manoel Vicente o mais importante.
A preocupação com o comportamento e o decoro das
moças era grande entre as famílias da sociedade. "Moça falada" não
podia dançar nos bailes, Testemunhei casos de senhoritas serem convidadas a deixar o salão, por essa razão. Como não existia clube, as festas se
realizavam nas casas de família, que exerciam vigilância sobre os
participantes. Quanto aos rapazes, o tratamento era outro. Somente em casos especiais de anarquistas e degenerados ocorria esse tipo de expurgo, mas a
verdade é que não se transigia com a seleção na escala social. Existiam os bailes de primeira e de segunda.
Como a cidade não possuía água encanada, adotou-se o
costume dos banhos no rio Piauí. Havia três banheiros para mulher: no beco do
potão, no beco do major Honório e no beco da feira; e somente um para os
homens, nas proximidades do beco do Manoel Luiz. Eram pequenos cercados na
água, tampados com palha de carnaúba. Os banhos eram coletivos, reunindo as famílias,
de acordo com as afinidades sociais e grau de parentesco. Como todos estavam
seguros da inviolabilidade do local, ninguém usava maios, nem calcinhas, nem cuecas, ficando mesmo nos trajes de Eva ou Adão. A partir das oito horas,
viam-se mulheres sair às ruas com toalhas às costas e saboneteiras nas mãos em
direção do rio. Além do prazer do banho, se regozijavam com as conversas,
passando em revista os acontecimentos do dia anterior, como se fossem
verdadeiros jornais falados.
O banheiro dos homens era um só e nele se concentravam varões casados e rapazes. Os sabonetes eram também comuns, passando de mão em
mão. Toalha nem se falava. Os viciados levavam uma garrafa de Januária e a brincadeira
era generalizada. Diziam que estavam recebendo os perfumes e os encantos que
do belo sexo, rio acima, se desprendiam nas águas correntes.
Com a substituição dos caciques nas lideranças
partidárias e as ordens pacifistas do novo prefeito, os ânimos foram se
acalmando, os homens e a mulheres de cada lado se entendendo, a paz reinando e todos mundo respirando aliviado, sem atritos, nem desconfianças. São João se
preparava para entrar progressista na década de 40.
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