Cada dia se complicava mais a situação de João Goulart no
governo da República. Oficialmente, seus partidos no Congresso eram o PTB e o
PSD, mas a UDN penetrava muito em palácio e tirava proveito, sem retorno
eleitoral, Aqui no Piauí, o Governador Petrônio era publicamente o seu
representante, para tirar todas as vantagens. O Presidente vivia empolgado com
as causas trabalhistas, de que eram porta-vozes os sindicatos de todas as
classes e categorias. Essa postura irritava muito os militares, sobretudo a oficialidade,
mas os assessores governamentais fomentavam os sargentos, numa luta de classe,
reagindo dentro dos quartéis. Não precisava ser bom observador, para saber que
o fomento à indisciplina era um erro de graves consequências. Na defesa de suas
prerrogativas constitucionais, João Goulart apelava para as populações civis,
prometendo realizar reformas de base, que seriam uma revolução dentro da escala
social. Dessa campanha se aproveitaram os adversários, muitos deles em
convivência dentro do palácio, para ligar as propostas governamentais com as do
comunismo russo e cubano.
Numa dessas viagens, já às vésperas do golpe, em um almoço
oferecido ao Presidente, nos salões do Jockey Club, em Teresina, presentes o
secretario e os altos escalões udenistas, o Governador Petrônio fez protestos da maior solidariedade a João Goulart,
afirmando que o Piauí marcharia armado a seu lado, contra os adversários do
regime
Era esse o clima político e popular do país, depois que
entrou o ano de 1964. Qualquer dia, tropas estariam se confrontando, segundo as
previsões dos analistas políticos. A 29 de março de 1964, o General Mourão
Filho levantou seu regimento no interior de Minas Gerais e marchou para
Brasília. A seguir, de todos os recantos do Brasil, o Ministro da Guerra
recebia mensagem de solidariedade aos insurrectos. O Governo fez em vão as primeiras
tentativas de preparar reações, mas não encontrou apoio em parte alguma, não
restando outra alternativa para João Goulart, senão fugir para o Uruguai no dia
1° de abril, sem passar o cargo a seu substituto legal. Somente três
governadores ficaram fiéis ao governo deposto: o do Rio Grande do Sul,
Pernambuco e Paraíba. O do Piauí pediu perdão aos militares, agarrando-se com
os oficiais de suas relações.
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